Pra que a gente não se esqueça de que é feliz
São Paulo, 05 de agosto
de 2019
Me apaixonei. E quase me esqueci de que sempre fui
feliz.
É engraçado como a soma de tesão e admiração por
alguém podem me tirar do eixo. Acontece com você? Se percebe apaixonada e fica
assim, meio ansiosa por demonstrações de afeto do outro. Ou nem se pega
apaixonada, porque ainda resiste em admitir, mas já tem uma música que dedica
ao casal. Ou já não acha que sabe nomear o que sente pelo outro, porque se cada
relação é única, essa carrega uma série de particularidades que te envolvem
cada vez mais.
E assim, sem perceber, eu passei um dia todo só
pensando nele. Claro que nuns intervalos eu fazia as coisas que realmente tinha
de fazer, mas me senti como os românticos do século XVIII. E gosto demais do
século XXI para continuar nisso. No meio da revisão do meu dia, plim,
acendeu-se a luz. Eu sou feliz e isso não depende dele. Não depende dele
responder essa mensagem. Não depende dele gostar da mensagem. Não depende dele
gostar de mim. Não depende de nenhum reforço ao meu ego ou de alguma garantia
vinda de fora.
É bem obvio, né? E tão clichê que eu já tinha dito
coisas parecidas centenas das vezes que me pediam conselhos. Mas internalizar por uma espécie de análise histórica da minha
própria vida que eu estou bem é um caminho de libertação da ansiedade. Sentir
que não há motivo para ficar insegura com minhas posturas, pensando em qual vai
ser o impacto disso sobre o que o outro pensa ou sente, é meu modo particular de me
permitir viver minha existência honesta dentro de uma relação (e olha que usar
esse termo já me assusta também).
E veja bem, é claro que aquele sorriso ainda me
derrete. E essa manhã acordei pensando nele. E que se a gente se propor a construir
uma relação, todas essas e mais coisas vem no pacote. Mas ao me dar conta de
que posso seguir meus dias alimentando menos as expectativas de que estaremos
juntos e mais o planejamento da minha vida pessoal, consigo equilibrar essa
loucura que é se apaixonar com os desafios de continuar sendo eu mesma. Porque
eu nunca tinha percebido, mas demanda um esforço tremendo. Demanda resistência.
E muita coragem. Manter-se fiel a si mesma pode ser mais difícil que outro tipo de fidelidade.
Para isso, o exercício é diário. Respeito a minha individualidade e a do outro e abraço o que isso trouxer, mesmo que traga a distância, eu me cobro menos em agradar. Ainda tenho um longo caminho pela frente, mas é respeitando também ao meu caminhar que eu sorrio, e percebo como sou feliz por sentir minha evolução. E sentir os tropeços do caminho. Erro quando busco, e é também na busca que mora a felicidade.
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