O menino dos brigadeiros


São Paulo, 16 de agosto de 2019

Metro Borba Gato. Um pouco depois das 16h. Há algumas umas semanas que eu o vejo aqui. Talvez já há uns dois meses. Todos os dias. Ele traz uma cestinha pequena de brigadeiros, beijinhos e aquele doce cor de rosa. Nas primeiras três semanas ele não conseguia falar. Eu sempre achei curioso o menino que, parado na frente da entrada do metrô, estendia sua caixinha de esperanças enroladas em granulado, mas tinha vergonha de oferecê-las ao mundo. Eu só imaginava como era difícil se expor para tantos rostos por dia, com respostas tão diferentes a uma abordagem anti-dieta no final de um dia longo. Mentalmente desejava sorte ao menino dos brigadeiros, mas continuava meu caminho.
Há umas semanas ela ganhou uma companhia. Uma garota com a metade da sua altura, sem encostar nos produtos, parecia um poço de fortazela ao aprendiz de vendas. Eles devem ter a mesma idade, difícil dizer se amigos ou namorados. Nos dois primeiros dias, não os vi interagir com clientes. Aos poucos ele foi pegando o jeito. Ela ali ao lado quase nunca precisou intervir.
Hoje, imagino que umas seis semanas depois de começar a saga, o vi sozinho outra vez. Pelo horário de Sol se pondo ou pelo bom humor, ele reluzia com o entardecer. Respondia simpaticamente a uma moça que decidia se levava mais um brigadeiro para a irmã.
Vê-lo sorrir de forma tão sincera e estar confortável com seus docinhos nas mãos me deu uma alegria imensa. Alguém mais venceu seus medos. Alguém mais enfrentou partes suas que queria ou precisava transformar. Alguém mais sobreviveu às fases difíceis da vida, dessas que nos empurram para onde nunca pensamos estar. Gosto muito quando a alegria vence.

E venceu com nosso menino dos brigadeiros. Desejo que ele continue vencendo cada batalha que se apresentar. E que você também vença as suas. E que a gente continue se inspirando nessas vitórias que são gigantes mas, que de tão perto, a gente se quase esquece de ver.

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