Pra quando a gente terminar - e um pedido aos Deuses

São Paulo, 04 de setembro de 2019

Eu senti um incômodo quando vi vocês dois conversando. E não era aquele comichão do ciúmes. Era aquela dorzinha de quando uma boa história está acabando. Fiquei triste com a chance de que um dia vamos encontrar quem se encaixe melhor na nossa história. Loucura, eu sei, porque esse também vai ser um dia super feliz. E tudo bem romper laços quando é para ficarmos ainda melhores. De um jeito ou de outro, tudo dentro da nossa mortalidade tem um prazo de validade. É só que eu gosto bastante desse laço específico, então não gosto de pensar nele desfeito.
 E Cronos volta nessa rodada. Citado ou não, está sempre presente nas experiências humanas. Fiquei triste pela possibilidade de você encontrar alguém que se encaixe melhor na sua rotina. Que também levante cedo para fazer exercícios em um bairro nobre da zona sul. Que já esteja na fase de carreira consolidada e não planejando as próximas duas graduações. Que não vai fazer piada dos seus hábitos de hétero-capitalista. E que já não sinta mais tudo de forma tão intensa, então que não vai esperar tanto de ti. E nem você dela.
Também fiquei com medo porque eu mesma posso encontrar alguém que tenha mais a ver comigo. Das referências gregas agindo sobre nós, minha Afrodite teria muito de Atena. Me faria encontrar alguém assim meio esquerda-vendida que trabalhe na Faria Lima mas ame o mundo acadêmico. Alguém que se encante pelos meus textos. Que ainda tenha o mundo por conhecer e toda a energia para apostar no novo. Que não tenha uma bagagem de experiências incríveis e por isso não traz tantos receios consigo. Alguém que goste de dormir de conchinha.
Tenho um medo danado porque sei que a gente é feliz de qualquer jeito, juntos ou separados. E essa nossa independência, de que eu não abriria mão, me lembra de que nada nos prende um ao outro. Por isso sei que se/quando a gente não estiver mais junto, a memória dessa história colorida vai desbotar. O que é ótimo, afinal através dessa linda ação eufemizadora do tempo nós conseguimos seguir em frente depois das maiores dores. Esse nosso futuro “tchau”, que vai trazer mais nostalgia do que dor, também vai ser abençoado por Cronos.
Mas enquanto eu gostar de você, a noção de que seremos um dia só mais um capítulo um do outro me aperta um pouco o coração. Acho que por isso precisava dizer tudo isso. Gosto de ti e de gostar de ti. Gosto de ter escolhido ficar e ter vivido minha experiência com você da minha forma mais honesta. Quem sabe um dia, “nossa experiência”. E se/quando ela acabar, que Cronos ainda esteja do nosso lado e nos permita abraçar a Sorte (latina e grega) para os novos laços e histórias que vamos viver. 

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