Sobre como eu abracei a (des)vantagem *warning: white people problem*
Embrace the shake, Ted Talking incrível que trabalha uma das principais sensações desse texto de uma forma muito mais legítima. |
São
Paulo, 08 de setembro de 2019.
A vida toda fui a mais nova nas minhas atividades. Nas aulas de idiomas,
no trabalho, nos grupos sociais. Eu amava ser a caçula. Sempre me deu a sensação de liberdade: não
me sentia pressionada a aprender rápido, nem a sensação de competir com os
resultados dos outros. Entendia que eu era diferente. Então me deixava ir no
meu ritmo e usualmente atingia os resultados pelos quais me dedicava.
Foi um desafio me ver numa situação em que começo em
"desvantagem".
Um exagero essa afirmação, mas assim eu senti no momento. Decidi fazer
uma segunda graduação – contra todos os conselhos do mercado em me especializar
na área que já estou. Decidi trocar um emprego estável por um estágio nesse
novo mercado que quero ocupar. Me senti
em desvantagem por não ter decidido pela faculdade de economia antes. Por não
ser uma recém-saída do ensino médio. Por ter de trabalhar enquanto faço
faculdade. Por recomeçar a carreira.
Todos 100% White people problems. Nem são problemas. Dentro de um leque
privilegiado de oportunidades que deviam ser direito de todos, eu fiquei
insegura pela lógica utilitarista, competitiva, maximizadora e das vantagens
comparativas (da economia liberal que não me representa). Quase deixei de lado
a chance de investir numa área que amo pelo medo de deixar a estabilidade e
segurança financeira. O que não é errado, é parte do que buscamos em conforto e parte da sobrevivência no capitalismo. Mas com o curto tempo que
tenho na Terra (nada abaixo de um século pode ser considerado muito), tenho
propósitos diferentes dos mercadológicos - apesar do curso. Silenciar o "aonda eu deveria estar" e ouvir o "o que eu quero fazer, aonde eu quero chegar" foi uma vitória pessoal gigante. Impedi o desperdício da capitalização das minhas metas.
Voltemos à Cronos. Ouvi muito "mas você ainda é jovem".
Amo ser jovem - e espero ser até os 120. O ponto é: hoje, percebendo essa
desvantagem tão vantajosa que é o tempo, isso não era mais necessário. Fiquei feliz por não
estar no grupo dos economistas dedicados de 17 anos, que desde o início tinham
claras suas posições. Estou feliz por abraçar a humildade de recomeçar e
aprender. Por usar o tempo a meu favor se precisar que ele seja vinculado a
minha data de nascimento. Por ser essa página em branco outra vez. Essa luz a
ser acesa e iluminar algum outro lugar.
Entendo se você quiser me socar pelo drama até aqui. Mas aguenta, é
nesse ponto que a reflexão pode se aplicar a outras histórias. Acho que a gente
sempre se apega a algumas condições de (zona de) conforto para atuar e, para
crescer a vida que realmente quer, precisa se forçar para fora dela. Eu gostava
dessa vantagem comparativa da idade porque me faziam sentir livre. Livre para
errar, para não corresponder, para surpreender, para aprender por aprender
mesmo sem a perspectiva de usar isso no trabalho ou na vida (sem o
utilitarismo). Liberdade para estar ali, vivendo o que eu queria viver. E
achava que, depois de um certo tempo/idade, a liberdade virava luxo, porque eu
estaria de alguma forma presa a um caminho depois um número x de escolhas.
(Adendo, um beijo aqui para o meu amor mais latino, que acha que temos um
número limite de paixões para cada existência.)
Eu estava errada (e
você também, mi guapo). Somos infinitos. E assim é nossa liberdade. E sim,
somos constrangidos por circunstâncias diversas, especialmente materiais.
Muitas de nossas decisões vãovilegiar esses
fatores, por sobrevivência ou conforto. Por isso, os que reduzem sua identidade
e existência a seu trabalho, seus bens, ou sua rede social, tem milhões de
limites. Quem se define por suas ideias, suas experiências, suas próprias
noites e manhãs.... Esses somos infinitos.
E assim como o Universo em expansão, nós não temos tempo para (ou opção
de) estagnar. Viver me expande. Eu vou viver a consequência das minhas
escolhas, e isso é ótimo. Cada uma delas me abre um novo caminho. Até as
paradas são importantes nessa caminhada. E não me importo em ir a pé. Gosto de
colher algumas flores no caminho.
O último ponto de superação nesse tema foi entender que ser mais
responsável por mim mesma não me tira liberdade. Na verdade, é sua última
expressão. A consciência sobre ação e reação e inclusive a ciência de que nem
tudo (ou quase nada) está sob meu controle, também não diminuem minha
liberdade. Ao contrário, a aumentam. Porque ao aumentar minha maturidade, minha
visão sobre o mundo real, entendo o que é escolher. E escolher é exercer essa
liberdade. Escolher qual porta fechar e qual caminho não seguir mais vai
deixando de ser uma tortura e passa a compor de forma consciente a escolha de onde ir e
para onde expandir.
E, assim como amar num bairro impessoal é um ato de resistência, ser
livre num mundo de opressões é meu maior protesto.
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