Sobre nossos pequenos
São Paulo, 10 de novembro de 2019
Ele não tinha mais de 6 anos. Carregava uma mochila quase do seu tamanho. E uma coberta bem maior que ele, já surrada pelo tempo. Vagou um banco, alguem no vagão do metrô indicou que ele podia se sentar. Sem levantar do chão, se arrastou até o banco. Acho que ele não imagina o simbolismo disso. Sorria. Colocou a coberta no banco, tirou a mochila das costas e se sentou. Usou as mãozinhas pra se apoiar e dar aquele pulinho pra conseguir, sabe? Ele estava acompanhado, mas parecia saber que seus responsáveis não tinham mais forças do que ele. Em qualquer sentido.
Teve dificuldade para arrumar uma posição confortável para aquela bolsa que no seu colo quase cobria seu rosto. Bocejou. Parecia cansado. Mas não dessas pessoas que quando cansa fica de mau humor. Ele continuou alegre. Brincava com o bebê no outro banco. Tornava a vigem daquele bebê mais agradável, mesmo quando não podiam fazer isso por ele. De longe, com as roupinhas meio sujas, era a alma mais iluminada do metrô.
Eu, muito menos resistente ao mundo do que o nosso pequeno, derramei as primeiras lágrimas ainda dentro do vagão. As demais são aqui, contando a história de mais um presente instável com um futuro incerto. É indescritível o peso de saber que essa criança merece as chances que eu tive. A infância de amor, cuidado e oportunidades. E incrível a paz que transmite aquele sorriso. Esse de quem não vai abrir mão de luta pelo direito de existir, mas sabe que a luta é em prol de si e dos outros. Espero que ele nunca perca o próprio sorriso. Porque a Vida ganha mais força nessa alegria de viver. E o Universo hoje é um pouco melhor porque ele existe.
Meu pequeno, espero que por uma mágica você sinta esse carinho por você. Que você possa manter essa garra que mostrou pra todo mundo hoje (eu não era a única admirada com a cena). Que eu mesma nunca me esqueça de que é por sorrisos como o seu que vale a pena lutar. E que um dia cada pequeno desse nosso mundo não corra o risco de ter a infância e os sorrisos engolidos pelo caminho.
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