Estou de volta, chuchus!


São Paulo, 08 de dezembro de 2019.


Às vezes a gente só precisa de pequenas vitórias no dia para retomar a própria rota. No mesmo dia em que nos despedimos, eu e meu amor latino, perdi todo o trabalho de horas que estava fazendo no computador de uma amiga. Em proporções diferentes e por motivos distantes, ambas as coisas tinham potencial para me deixar muito triste. Nem de longe são a convenção do que é uma vitória. Mas me levaram a conclusões parecidas. 

Na despedida, fiquei surpresa porque veio dele. Eu estava rascunhando há semanas o que queria dizer, sem nunca enviar uma linha. Já o trabalho perdido, também já tinha me tomado umas horas anteriores. 

Começando pelo óbvio, poderia ter usado a plataforma online para evitar perdas no trabalho. Assumo que o play safe me falta também em relações. Só que o relevante, no segundo em que o computador apagou a tela e me devolveu um documento em branco, foi que eu esperava de mim mesma um leve surto. Ou desistência. Depois de uma fase de dias cinzas, não esperava encontrar em mim uma justificativa para recomeçar.

Para minha surpresa, vi como uma chance de enrolar menos e fazer um trabalho melhor. Sem esforço para me convencer disso. As aulas foram ótimas, as discussões, incríveis e vi como chance de retribuir compartilhando naquele resumo o que eu tinha absorvido do curso. E veja, a sensação de preguiça e aquela reclamação por hábito surgiram. Mas sem frustração. Para ser sincera, nem me incomodou muito. Acreditar de verdade que era importante a entrega me impediu de questionar a importância de fazer bem feito. Foi a virada na chave que eu precisava para manter o controle e não perder a energia com que tinha começado.

Não foi diferente para o término. E com toda a relação enquanto existiu. Acreditar que era importante viver no meu máximo me fez aproveitar cada segundo. E chorar com seu final. E perceber que o fim de um capítulo, que eu queria que virasse livro, é na verdade a chance de escrever novas histórias (mesmo que essa parte tenha demorado um pouco mais). E que cada vez que eu reescrever, um trabalho acadêmico, um romance (real ou literário), ele vai diferente, mais condizente com o meu presente e mais a minha cara. Assim dá menos medo de recomeçar.


A vontade ser melhor, nesse breve trabalho y en ese amor de primavera me tornaram/mostraram mais de mim mesma. Me fizeram redescobrir e confiar no meu melhor. Me convenceram de que eu posso sim fazer mais. Os resultados nem foram os ideiais, do ponto de vista socialmente objetivo (a gente não está mais junto e nem sei se a professora vai aceitar uma entrega atrasada). Ao mesmo tempo, foram excelentes. Eu aprendi. Sobre mim e sobre o mundo. E não há cenário melhor do que aquele em que evoluímos e somos mais felizes. Porque crescemos. Recebemos amor e apoio de quem decidiu ficar e sentimos aquela força que vem de dentro e nos impulsiona a dar um pouco mais de esforço. Às vezes pelo outro, mas especialmente por nós mesmos. É a sensação de “Estou de volta, chuchus!” E estou mesmo. 

E isso serve pra gente se lembrar de como voltar. Voltar a se por no jogo, a dar as caras, a tomar o controle da própria vida. Às vezes a gente precisa assim de pequenas vitórias para estar de volta. Pode ser ficar tranquila sabendo que a saudade de quem não quis ficar passa. Pode ser sorrir com o bug no computador, fazer amizade e piada no ônibus lotado ou simplesmente arrumar uma parte da casa, mesmo que todo resto continue bagunçado. Cada passo importa. Cada vitória conta.

Quando você vai se vendo como alguém que vence batalhas, dá mais vontade de batalhar. E através desses desafios vamos reconhecendo em nós isso que gostamos de ver: resiliência. E perto do final de um ano com tantas aventuras e turbulências, tenho certeza que eu e você temos de sobra. 

Não sei qual vai ser sua pequena ou grande batalha hoje, e nem se seu dia vai trazer algumas vitórias disfarçadas, mas espero que comece por uma das minhas favoritas: divirta-se!

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