Republik - da aventura de navegar em time
Cada
experiência de viver no coletivo é única. Há, por exemplo, uma diferença enorme
entre viver entre muitas ou poucas pessoas. Acho que é mais ou menos a
diferença entre praticar esportes em grupo ou individuais. Quando você fica
mais visível, aumenta a visibilidade dos seus erros e fraquezas. Exatamente por
isso aumenta seu desenvolvimento, sua autoconsciência e, se você se aventurar,
aumentam suas chances de trilhar esse caminho com segurança. Afinal, nos grupos
grandes ou pequenos (ou até nos esportes em que você representa sua equipe
jogando sozinho), se desafiar é importante para conquistar o objetivo comum.
Viver numa república não é diferente. Aqui é o lugar comum em que dividimos cômodos, comida, histórias, sorrisos e lágrimas com a família que escolhemos montar. Aqui temos uma serie de ideias, personalidades e objetivos, parecidos ou nem tanto, convivendo no mesmo ambiente. E aqui sempre posso me lembrar de como é importante jogar junto.
Já morei com um time grande - éramos 13. Vive la Republique. Quando estamos em um grupo desses, as falhas podem ser mais facilmente apagadas pelo dinamismo da convivência. Os problemas surgem rápido e acabam sendo resolvidos na mesma velocidade: os recados são geralmente coletivos, as propostas de resolução são variadas e sempre tem um novo tópico a resolver. E, não me entenda mal, várias vezes ficam ressentimentos e umas histórias são aumentadas pela simples possibilidade de recontá-las a cada pessoa da casa que não viu uma cena. Mesmo assim, há mais liquidez (desculpem a pós-modernidade do termo) em cada problema.
Em
grupos menores (sejam casais ou alguns amigos dividindo um apartamento), as
divergências são encaradas de forma direcionada. Aprendi com uma das mulheres
incríveis de La Republique que isso é a carga emocional. Ela se intensifica em
grupos menores porque os laços se estreitam. Aqui, as palavras têm mais peso,
porque nessa convivência mais "exclusiva" cada indivíduo ocupa um
espaço maior na vida de seus familiares da casa.
Eu tinha muito medo disso. Acho que ainda tenho. Assumir minha responsabilidade como parte da vida de pessoas importantes para mim. Gente que eu admiro e quero tão bem, e por quem simplesmente não sei se posso retribuir. Me assustava a perspectiva de morar com menos republicanos e não ter onde me esconder quando não estivesse num bom humor ou pronta para cumprir com alguma tarefa. Me assusta deixar visíveis as vulnerabilidades.
Mas
também acho que isso é uma necessidade humana. Quando temos uma casa muito
cheia, costumamos nos aproximar de quem temos mais afinidade. Esse movimento
universal quase de clubismo reflete na verdade nossa natureza (nada pós-moderna)
de criar laços. Queremos afeto e queremos vínculos. Mesmo que isso implique em
abaixar a guarda e se abrir aos "infinitos perigos das relações não
triviais". Bem, tem gente que faz isso com maior ou menor facilidade, não
importa. A gente gosta de gostar de gente, pelo menos de alguma gente nesse
mundo, aos mais pessimistas.
Hoje,
da forma mais madura e gentil que eu poderia imaginar, minha família de
república me mostrou como lidar com as implicações dos vínculos. Conversamos
sobre algumas falas e posturas que incomodaram. Me mostraram seus motivos e seu
entendimento. Me mostraram seu carinho e sua compreensão. Me ouviram sobre meus
motivos. E chegamos a um acordo.
Na
Republik, essa família democrática e
amorosa só se torna possível pelo comprometimento de todo mundo que está aqui
em transformar um espaço em um lugar, e fazer de lar onde antes era só uma casa
(ou o que quer que fosse nosso andar sobre o bar). Não importa o que foi o que
vai ser quando a gente se mudar. Porque hoje é nosso, para reabastecemos e
navegarmos melhores por aí. Obrigada por serem um porto tão lindo, receptivo e
inspirador para mim, meus anjos. Obrigada por me ensinarem a navegar melhor no
nosso próprio mar de experiências - e por entenderem que erro numas curvas por
aí.
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