Felicidade como resistência
São Paulo,
14 de outubro de 2019.
E
aí eu me peguei sorrindo outra vez. Uma mãe falava aos berros olhando o
celular. Não porque estava brava com algo ou alguém. Ela superava o barulho da
plataforma de Pinheiros às 9h30 da manhã, tranquilizando seu pequeno do outro
lado da tela, que acabara de quebrar uma mochila. "A
mamãe compra outra", ela respondeu, com um sorriso no rosto enquanto corria
para pegar o trem.
Essa
capacidade de demonstrar carinho, de cuidar no meio do caos que é essa estação,
essa cidade e essa vida me fizeram sorrir. Não o sorriso triste de que alguém não
estava vivendo uma boa história romântica (pois é). O sorriso feliz de quem
encontra muito amor em todo lugar. O sorriso porque muita gente está vivendo e
criando histórias lindas a todo instante. E especialmente o sorriso de quem se
lembrou de que não precisamos de muito pra sorrir.
Basta
um pão de queijo, um olhar amigo, um ônibus que chega no horário que você
precisa, um sorriso do outro lado da tela. As milhares de vidas que estavam em
Pinheiros quando eu subia as escadas me mostravam nesse fluxo insano que há
muito pelo que sorrir. Atrás de cada história de luta pode haver também uma
história de amor e esperança de tempos melhores. De “a gente dá um jeito".
E de alguma forma, isso aumenta minha esperança no futuro. Eu já vi tempos melhores - política e
socialmente falando. Mas a vida é cíclica. Novos tempos sempre surgem. Estamos
numa fase difícil, então que seja o tempo de "ninguém solta a mão de
ninguém." E que a gente aprenda com os dias difíceis de agora e se inspire
na força de quem já batalhava antes de nós. E ainda batalha com um sorriso, mesmo com o trem lotado ou com a mochila quebrada. Assim, com essa sabedoria, quando os dias bons chegarem, que a
gente saiba honrar nossa luta. E que todos os dias nossa felicidade seja nossa
resistência.
[edit: sugestão musical https://www.youtube.com/watch?v=SxVDdFAWUVo]
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