Para ser feliz com a chuva e demais apesares
São Paulo, 03 de fevereiro de 2020.
Voltei para casa na chuva. Singing in the rain, sem ter visto o filme. Não sei bem porquê. Estava cansada, os pés um pouco machucados pelo salto alto, superando o ex, com medo de não estar dando conta do trabalho. E sem guarda-chuva. Acho que por tudo isso eu sorria. Porque estava tomando chuva, porque estava vestida como gosto, porque trabalhei muito para entregar minhas tarefas. Acho que eu cantava por essa felicidade de estar no meu caminho. Pra minha casa, pro meu quarto, pro espaço que eu escolhi. Para a vida que, dentro do meu tempo e das minhas possibilidades, eu escolho e construo todos os dias.
Subi cantando as escadas com o salto na mão. Ainda de fone, tirei essa fotinho aí, comemorando a estar bem num dia normal. E fui para a cozinha. Não vi a tempo que ela estava alagada. Esqueceram a máquina de lavar funcionando - ela tem um probleminha e vaza às vezes. Tomei um capote. Meu pé já machucado ficou duas vezes pior. E meu bom humor se desmanchou. Fui para o banheiro tomar banho. Puta. E pensei em quão frágil era esse bom humor se ele não podia resistir a um "deslize". Por isso, resisti. Depois do banho fui secar a cozinha. E mesmo brava por "alguém ter deixado a máquina vazar", me lembrei de como vivo com pessoas incríveis que jamais fariam isso por falta de empatia. Lembrei que não havia motivo para fazer alguém se sentir mal na tentativa de aliviar minha raiva. E bastava pedir para que ninguém mais lavasse roupa quando estava prestes a sair de casa que o problema não iria se repetir.
E foi assim. Quando minha amiga chegou, terminamos a missão secagem e estabelecemos o combinado para lavar roupas. Para completar, fui "indenizada" com o jantar. A paz reinou novamente.
Na imensidão que é existir, viver é um eterno conflito de equilíbrio e caos. Em outras palavras, você arruma de um lado e surge um novo tema para descobrir do quebra cabeça. O outro de hoje foi o boy. Mi querido latino, mi ex. Uma saga, mas ela quase chegou no Carnaval, olha que absurdo. Passei o recorde de uma semana sem falar com ele desde a 8 despedida (?). E quando ele me chamou, a fortaleza que construí com todos os sucessos daquela semana se abalou. E eu, preocupada em conseguir me manter firme no meu crescimento e felicidade, recorri às minhas fontes mais confiáveis. A minha amiga, enquanto secávamos a cozinha, me ouviu refletir sobre como eu buscava nele segurança, prazer (porque sim, isso era um dos melhores pontos) e amor (mesmo sem ser isso o que encontrava, a perspectiva de ter me fazia ficar). Minha mãe teve um papel fundamental em ressaltar como o egoísmo dele o fazia me procurar para ter à mão alguém com quem ele pudesse passar um bom momento sem se comprometer - enquanto eu pensava em como fazer a gente dar certo como casal.
Nenhuma dessas realidades foi suficiente para acabar com minha vontade de falar com ele. Então, nesse dia em que abracei o que há de mais humano em mim, fui falar com o dito cujo. "Tá em casa? Porque vou te ligar." E liguei. E ele atendeu.
Falamos por 01h01. Precisamente. Pedi ajuda. Expus que a cada vez que nos falamos eu alimento expectativas. Ele próprio me aconselhou a me afastar, porque sabe ser o cara que sempre vai "arrumar uma estratégia pra me procurar de novo." Eu, num exercício de transparência que me deixa orgulhosa, mostrei que eu deixava a porta aberta para que ele fizesse isso. eu gosto do jogo de me sentir especial a ponto de ele cogitar mudar a vida por mim. e ele gosta de se sentir admirado e me ver disposta a adaptar a minha vida à dele. E a gente tem uma química fenomenal. É o combo perfeito para um limbo de procrastinar o adeus.
Falei sobre como ele tem medo de se comprometer e como esse é um caminho infantil, desses que não aceita que a vida é feita de responsabilidade em todos os aspectos - e que isso na verdade é uma coisa boa. Dei minha opinião sobre que nenhuma vida deve ser baseada no medo. Podemos ouvir o medo para não quebrar muito a cara, mas viver com base nele nos tira o que há de mais humano: aventurar-se para descobrir, encontrar, criar e amar. E espero que ele ame muito. E seja muito amado. E tenha aprendido com as minas que se afastaram porque sofreram muito. E tenha aprendido com essa mulher (o niña) 15 anos mais nova, que se afastou por amor (a ele, às pessoas que a querem bem e especialmente, por amor a si mesma).
É engraçado isso de realmente querer bem quem não cabe mais na nossa vida, né? É uma sensação curiosa e gostosa. Libertadora.
Para completar o dia mais humano, nossa república, a Das Kapital, teve o jantar. Esfirra. Cheguei depois de uma hora falando de amores e talheres (e como não podemos nos envolver na rotina de quem precisamos nos afastar) no telefone. Fui conversar com as pessoas mais maravilhosas que você pode imaginar. Psicanalistas formados pela vida. E que formosuras de almas.
Fizemos uma sessão de elogios. Saca esse exercício, se fizer um dia me conta como foi. Cada um dos presentes elogia algo em si mesmo, em reconhecimento ao que tem de bom, e escuta elogios dos demais. E isso vai em rodinha até todo mundo ter trocado elogios. Nesse meio tempo, falamos de algumas perdas e vitórias que tivemos. E como a nossa vida nos trouxe até aqui. Falamos sobre os dias de chuva. E vi como nem sempre precisa fazer sol lá fora para estarmos iluminados por aqui.
Já passa da meia noite e eu não fiz as coisas que me propus para essa noite. Não fui a minha versão "produtiva". Mas, ou por isso mesmo, fui a minha melhor versão: a que ri, se emociona, compartilha o que aprendeu e aprende no processo, pensa, se entrega, fala com sinceridade e sente com intensidade. Escrevi. Meu Deus, que saudades que eu estava disso!
Tudo no dia de hoje teve uma importância enorme. Um dia normal, cinza em São Paulo, com a ida para o trabalho no transporte público, a chuva de final de tarde, um papo com gente que fez e faz parte da minha vida. Pode falar que é clichê, mas se a vida é mesmo o que fazemos dela, hoje vi como fui feliz com meus "apesares". E fui feliz por causa deles. Feliz porque escolhi superar meu deslize na cozinha. Feliz porque escolhi enfrentar meu ex e tirar dele o lugar que ocupou na minha vida. Feliz porque aprendi com quem vive comigo. Fui feliz porque reconheci que sou feliz e porque encarei tudo aquilo que as vezes me tira umas lágrimas. Fui feliz porque muita coisa se foi e se vai ao mesmo tempo que muita coisa vem e permanece. Hoje eu não fui feliz apesar da chuva. Eu fui feliz por causa dela.
Voltei para casa na chuva. Singing in the rain, sem ter visto o filme. Não sei bem porquê. Estava cansada, os pés um pouco machucados pelo salto alto, superando o ex, com medo de não estar dando conta do trabalho. E sem guarda-chuva. Acho que por tudo isso eu sorria. Porque estava tomando chuva, porque estava vestida como gosto, porque trabalhei muito para entregar minhas tarefas. Acho que eu cantava por essa felicidade de estar no meu caminho. Pra minha casa, pro meu quarto, pro espaço que eu escolhi. Para a vida que, dentro do meu tempo e das minhas possibilidades, eu escolho e construo todos os dias.
Subi cantando as escadas com o salto na mão. Ainda de fone, tirei essa fotinho aí, comemorando a estar bem num dia normal. E fui para a cozinha. Não vi a tempo que ela estava alagada. Esqueceram a máquina de lavar funcionando - ela tem um probleminha e vaza às vezes. Tomei um capote. Meu pé já machucado ficou duas vezes pior. E meu bom humor se desmanchou. Fui para o banheiro tomar banho. Puta. E pensei em quão frágil era esse bom humor se ele não podia resistir a um "deslize". Por isso, resisti. Depois do banho fui secar a cozinha. E mesmo brava por "alguém ter deixado a máquina vazar", me lembrei de como vivo com pessoas incríveis que jamais fariam isso por falta de empatia. Lembrei que não havia motivo para fazer alguém se sentir mal na tentativa de aliviar minha raiva. E bastava pedir para que ninguém mais lavasse roupa quando estava prestes a sair de casa que o problema não iria se repetir.
E foi assim. Quando minha amiga chegou, terminamos a missão secagem e estabelecemos o combinado para lavar roupas. Para completar, fui "indenizada" com o jantar. A paz reinou novamente.
Na imensidão que é existir, viver é um eterno conflito de equilíbrio e caos. Em outras palavras, você arruma de um lado e surge um novo tema para descobrir do quebra cabeça. O outro de hoje foi o boy. Mi querido latino, mi ex. Uma saga, mas ela quase chegou no Carnaval, olha que absurdo. Passei o recorde de uma semana sem falar com ele desde a 8 despedida (?). E quando ele me chamou, a fortaleza que construí com todos os sucessos daquela semana se abalou. E eu, preocupada em conseguir me manter firme no meu crescimento e felicidade, recorri às minhas fontes mais confiáveis. A minha amiga, enquanto secávamos a cozinha, me ouviu refletir sobre como eu buscava nele segurança, prazer (porque sim, isso era um dos melhores pontos) e amor (mesmo sem ser isso o que encontrava, a perspectiva de ter me fazia ficar). Minha mãe teve um papel fundamental em ressaltar como o egoísmo dele o fazia me procurar para ter à mão alguém com quem ele pudesse passar um bom momento sem se comprometer - enquanto eu pensava em como fazer a gente dar certo como casal.
Nenhuma dessas realidades foi suficiente para acabar com minha vontade de falar com ele. Então, nesse dia em que abracei o que há de mais humano em mim, fui falar com o dito cujo. "Tá em casa? Porque vou te ligar." E liguei. E ele atendeu.
Falamos por 01h01. Precisamente. Pedi ajuda. Expus que a cada vez que nos falamos eu alimento expectativas. Ele próprio me aconselhou a me afastar, porque sabe ser o cara que sempre vai "arrumar uma estratégia pra me procurar de novo." Eu, num exercício de transparência que me deixa orgulhosa, mostrei que eu deixava a porta aberta para que ele fizesse isso. eu gosto do jogo de me sentir especial a ponto de ele cogitar mudar a vida por mim. e ele gosta de se sentir admirado e me ver disposta a adaptar a minha vida à dele. E a gente tem uma química fenomenal. É o combo perfeito para um limbo de procrastinar o adeus.
Falei sobre como ele tem medo de se comprometer e como esse é um caminho infantil, desses que não aceita que a vida é feita de responsabilidade em todos os aspectos - e que isso na verdade é uma coisa boa. Dei minha opinião sobre que nenhuma vida deve ser baseada no medo. Podemos ouvir o medo para não quebrar muito a cara, mas viver com base nele nos tira o que há de mais humano: aventurar-se para descobrir, encontrar, criar e amar. E espero que ele ame muito. E seja muito amado. E tenha aprendido com as minas que se afastaram porque sofreram muito. E tenha aprendido com essa mulher (o niña) 15 anos mais nova, que se afastou por amor (a ele, às pessoas que a querem bem e especialmente, por amor a si mesma).
É engraçado isso de realmente querer bem quem não cabe mais na nossa vida, né? É uma sensação curiosa e gostosa. Libertadora.
Para completar o dia mais humano, nossa república, a Das Kapital, teve o jantar. Esfirra. Cheguei depois de uma hora falando de amores e talheres (e como não podemos nos envolver na rotina de quem precisamos nos afastar) no telefone. Fui conversar com as pessoas mais maravilhosas que você pode imaginar. Psicanalistas formados pela vida. E que formosuras de almas.
Fizemos uma sessão de elogios. Saca esse exercício, se fizer um dia me conta como foi. Cada um dos presentes elogia algo em si mesmo, em reconhecimento ao que tem de bom, e escuta elogios dos demais. E isso vai em rodinha até todo mundo ter trocado elogios. Nesse meio tempo, falamos de algumas perdas e vitórias que tivemos. E como a nossa vida nos trouxe até aqui. Falamos sobre os dias de chuva. E vi como nem sempre precisa fazer sol lá fora para estarmos iluminados por aqui.
Já passa da meia noite e eu não fiz as coisas que me propus para essa noite. Não fui a minha versão "produtiva". Mas, ou por isso mesmo, fui a minha melhor versão: a que ri, se emociona, compartilha o que aprendeu e aprende no processo, pensa, se entrega, fala com sinceridade e sente com intensidade. Escrevi. Meu Deus, que saudades que eu estava disso!
Tudo no dia de hoje teve uma importância enorme. Um dia normal, cinza em São Paulo, com a ida para o trabalho no transporte público, a chuva de final de tarde, um papo com gente que fez e faz parte da minha vida. Pode falar que é clichê, mas se a vida é mesmo o que fazemos dela, hoje vi como fui feliz com meus "apesares". E fui feliz por causa deles. Feliz porque escolhi superar meu deslize na cozinha. Feliz porque escolhi enfrentar meu ex e tirar dele o lugar que ocupou na minha vida. Feliz porque aprendi com quem vive comigo. Fui feliz porque reconheci que sou feliz e porque encarei tudo aquilo que as vezes me tira umas lágrimas. Fui feliz porque muita coisa se foi e se vai ao mesmo tempo que muita coisa vem e permanece. Hoje eu não fui feliz apesar da chuva. Eu fui feliz por causa dela.
Amanhã
se garoar no seu dia, espero que seja feliz. Com as gotas e com esses arco-íris
do caminho. Divirta-se!
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