Das dores e da responsabilidade emocional - comigo e contigo
Santo
André, 21 de maio de 2020.
Não preciso te ligar pra falar isso. Fiquei chateada por você não ser quem eu esperava. Quando fui embora na última vez que estive aí, me virei pra me despedir e você estava secando uma mulher. Senti que nada adiantou, que você não vai mudar. Gastei meu tempo e minha energia pra realmente me envolver na sua história e te ajudar a chegar a um lugar que você disse que queria (mas eu acho que não quer). E não fez nenhuma diferença. Isso doeu. Várias versões de Morenas e Jardineiras ainda vão ser machucadas. Não só por você, mas por várias versões de Fênix e Tex-Mex's que vão passar pela vida delas. E não quero trabalhar com o termo culpa. É responsabilidade. Delas e de vocês. Não. Nossa.
Nossa responsabilidade enquanto mulheres que deixam/deixaram homens imaturos e indecisos entarem em nossas vidas e nos bagunçarem. E responsabilidade de vocês, homens ocupados demais como próprio crescimento e indiferentes aos processos das mulheres de sentirem, de crescerem, de se entregarem e de demandarem coisas tão básicas como respeito e afeto (que vocês entregam de forma esporádica, inconstante e vazia, geralmente só ecos das próprias necessidades egoístas de vocês por atenção e cuidados). Eu estou com raiva de tantos anos desse processo. Tantos anos que me consumiram, me afastaram de mim mesma porque eu me fazia ocupada cuidando de quem não tinha a mínima reciprocidade que meu afeto merecia.
Não estou resumindo vocês (homens no geral ou você e meu ex em específico) a essas posturas irresponsáveis. Vocês são seres humanos brilhantes, divertidos, com bagagens culturais que eu admiro e estão nos seus próprios processos de autoconhecimento e crescimento que eu apoio em cada segundo. Mas porra, não fode com o processo alheio, cabrón.
Eu finalmente entrei no meu processo de me perdoar por ter investido tanto tempo em relações que me fizeram mal. Me perdoar por ter tentado encaixar alguém nas minhas expectativas. Me perdoar por não ter enxergado todos os sinais de que vocês usavam minha entrega pra satisfazer suas necessidades sem olhar pras minhas. Me perdoar porque eu não cuidei de mim como cuidava de vocês. E quero muito perdoar vocês todos. Vocês ficaram confortáveis na criação (familiar e social) que pregava que mulheres aguentam sofrer mais. E vejo também falta de empatia, porque vocês precisavam ver a gente cair em lágrimas pra começar a enxergar que nossas dores eram reais. As vezes nem assim. Anyway, enquanto não perdoo cada homem que me fez esse mal, eles... vocês ainda ocupam espaço aqui dentro. E esse espaço não é mais de vocês.
E assim, nomear é o início da minha cura. De retomar o espaço em mim que sempre foi meu. E não precisei te ligar pra dizer isso. Não precisei passar o final de semana com você pra tomar um bom vinho e me sentir linda e desejada. Não precisei te dar espaço em mim pra me sentir preenchida. Porque eu nã0 preciso mais de você. E tenho certeza que cada vez menos mulheres vão precisar de homens como você.
MEU DEUS COMO ISSO É BOM!
E pra cada homem e mulher que leu esse desabafo (obrigada de verdade!) e ja encontrou alguém que te fez esse mal - especialmente pra aqueles que eu mesma machuquei: espero que possa amar-se mais do que já amou qualquer romance. Que possa desfrutar da sua companhia e confiar que você mesma/o pode se cuidar. Parabéns por sair mais forte desse processo. E não esquece, você não está sozinha/o nesse processo.
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Música pra mandar pal carajo quem te faz mal: Te Boté (sim,
como todo reggeaton, escute sabendo que tem muito machismo ainda, mas dá pra
abraçar o refrão.)
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