Você não é melhor do que um abacaxi

São Paulo, 12 de maio de 2020.

Você convida um amigo para jantar. De sobremesa, como estão na fase de cuidar da saúde, você oferece frutas. Tem várias opções na mesa, todas fresquinhas e muito bonitas. Você gosta de todas. Ele, não. Você monta seu prato, senta no sofá e o espera pra começar a comer. Quando ele se senta, você nota que ele não pegou abacaxi. Você prova o seu e percebe que está uma delícia. Oferece para seu amigo dar uma chance, mas ele responde que não gosta. Ele prefere as outras frutas. Até aqui, nada de errado, certo? Tudo bem seu amigo não gostar de abacaxi. Afinal, nem todo mundo gosta de abacaxi.

O abacaxi não vai tentar se aproximar do sabor de um kiwi ou de uma maçã para fazer parte de todos os pratos. Nem que pudesse tentar ele conseguiria. E acho que se ele fosse racional, não tomaria essa decisão. 

Você, na outra ponta dessa história, quando alguém não gosta de algo, não insiste dizendo que aquela é a melhor coisa do mundo. Você não diz a quem recusou abacaxi que essa é uma fruta incrível e que depois de provar mais vezes, o outro vai mudar de ideia. Porque você sabe que para gostar do sabor de algo, não precisa forçar. E sabe que nem todo mundo vai gostar de abacaxi. Alguns vão gostar e enjoar. Alguns só vão gostar depois de anos sem provar. Alguns nunca vão. Ponto.

Então por que você acha que as pessoas têm de gostar de você? Por que você não aceita que é o abacaxi de muita gente? E por que se força a gostar de quem é seu próprio abacaxi nos dias em que você tá mesmo afim de comer... jabuticaba?

Se ainda não estiver claro, estou falando comigo também.

Eu sei, eu sei, a gente se considera melhor que um abacaxi. Pelo menos na maior parte das vezes eu me considero. Me esforço mais pelos outros que os abacaxis que conheço. Faço mais gente sorrir, cuido mais (e dou menos aftas, mesmo que talvez mais dor de cabeça). Mas, vamos encarar, ninguém é melhor que um abacaxi qualquer. Eu não sou. Você não é. E a pessoa que você tenta conquistar, ou de quem você está tentando gostar, também não é. E isso é ótimo!

Um abacaxi não é melhor que um abacate. Nem é pior que uma banana. São frutas diferentes e não passíveis de comparações nessa régua de "melhor vs. pior". Pessoas também. Claro, às vezes quero colocar terraplanistas e cia. à parte, mas no geral somos só... nós. Cada um com suas particularidades, gostos e sabores diferentes. E assim como as frutas, vamos despertar reações diferente em cada um que nos conhecerem. E essas pessoas também vão nos despertar reações. E nem sempre vão ser recíprocas, mas sempre vão contar com muito mais do que elementos sob nosso controle.

E vale para todas as formas de relação. No amor, no mercado, nos estudos, no trabalho ou no Uber que você entrar: você não vai conquistar todo mundo. Nem todo mundo vai te conquistar. Seja em termos de ganhar simpatia, bater o santo, se dar bem. Nem toda energia flui bem junta. E isso é ótimo. Isso te dá espaço para fluir melhor com quem realmente se dá bem e especialmente, ter espaço interno para que a sua flua com você.

Aceite ser a você. Deixe o abacaxi ser o abacaxi. E cada fruta da fruteira ser quem ela é. Afinal, nem todo mundo vai gostar, mas acho que vale a pena te lembrar e me lembrar também: tem muita gente que gosta de abacaxi.