Eu te amei - da Lua ao meu sangue e como o amor me salvou (outra vez)


São Paulo, 28 de junho de 2020.


            Eu te amei porque era noite de Lua crescente e você apareceu naquela camiseta branca que combinava com os raios dela. Te amei porque tinha histórias do mundo e opiniões consolidadas do que aprendeu com elas. Te amei porque íamos da mesa do bar à cantina espanhola. Te amei porque vivi esse namoro-pocket com direito a decorar a casa e falar mal de best-sellers. Te amei porque se impressionou com o quanto a menina de 22 anos tinha pra te ensinar. E achei que poderia me amar por isso. Cada vez que dava aquele sorrisinho de surpresa porque eu conhecia um termo, uma música, uma história, eu achava que estava ganhando um espaço em você. Um espaço parecido com o que você ganhava em mim quando me contava do seu mundo.

            Te amei porque quis te amar. Porque me abrir pra sonhar a partir do pouco que vivíamos com o muito que poderíamos viver. Porque achei que qualquer desafio podia ser superado quando a gente se dava tão bem. Achei que meus desconfortos com os seus sumiços iam passar, assim como seus incômodos com a minha intensidade um dia iriam embora. Mas não foram e a gente continuou no jogo de dar certo a cada quinze dias. Até que não deu mais e a gente entrou no jogo dos términos. E nesse tempo todo eu acho que nunca perdi por completo a esperança. Quando você saiu pra não voltar mais, eu troquei de expectativa. Não queria que aquele amor continuasse nem em mim nem em você. Mas queria muito ouvir, pelo menos uma vez, que você tinha me amado como eu te amei. E acho que não só por nós, mas por todos os meus amores não correspondidos. Quem sabe, mesmo sem timing, o amor não passou por ali?

            Mas isso não faz diferença, por mais que eu insista. Achei que seria um sopro no arranhão, mas a gente sabe que sangramentos assim demandam mais do que isso.

            Agora eu estou de repouso. Quarentena emocional. Já saí da UTI, hemorragia estancada, mas em observação porque a ferida ainda está aberta. Pra ser sincera eu já tinha fechado com pontos, mas eles estouraram todos. E eu nem percebi. Cheguei na médica sangrando e dizendo que não estava doendo. Ela me perguntou se eu já tinha olhado. Eu disse que não. Ela segurou minha mão e vimos juntas. E foi a primeira vez que eu quis fugir de crescer.

            E quis fugir porque eu acreditei por muito tempo que já tinha passado. Que eu tinha tomado os remédios certos, que eu tinha cuidado bem e que essa ferida nunca mais ia me incomodar. Quis voltar pra antes de eu me apaixonar e antes de abrir qualquer uma das feridas que são cicatrizes em mim hoje. Quis correr do meu sangue porque tinha muito de você nele. E em cada lágrima ainda tem. Tem desse nós que fomos e daquele nós que nunca conseguimos ser. 

            Mas eu não fugi. Confiei nela, confiei em mim e juntas começamos a dar os pontos. Por isso eu ainda estou em recuperação. Começar a fechar dói, mas passa. A recuperação pra mim é mais difícil. A dor que sinto é daquelas que lateja. Mas sei que quando passar - vou saber porque começa a coçar - é só eu evitar ceder. Em algum momento cicatriza. E não vou mais ter pressa no que for pra me fazer bem.

            Porque daqui do hospital a noção de tempo e de prioridades muda bastante, sabe? Quando eu tive que correr às pressas, encontrei amor por todos os lados. No meu melhor amigo, que me levou pro hospital, na minha médica, que desde que me viu chegar me recebeu no melhor olhar-abraço e até nas pessoas que falaram comigo sem nem desconfiar o que eu estava enfrentando. E nesse sangue que saiu de mim também tinha todo amor do mundo. E sei que esse amor está me ajudando na minha recuperação. E agora renovado com a troca de sangue, também é o amor que vai me curar.

Esboço feito na mesa do bar, quando ainda não sabia
que aquele encontro ia durar mais de uma noite.
A mesa em que eu estava fora colocada na calçada,
à minha frente as folhas daquela arvore brilhavam
com uma lua especialmente bela.
Desenho mal, mas a sensação estava ótima.
            Me desculpa por quando toquei nas suas feridas. Me desculpa se já abri alguma delas. Agora eu entendi porque você se fechou e não quer mais passar por isso. Entendi de verdade. Eu também não quero mais um corte desses. Mas eu não considero a hipótese de deixar de amar por ele. Por isso, por todo amor do mundo, que me ensinaram, que me deram, que eu tenho por mim e por você, desejo que se encha de amor em todos os dias da sua vida. Você merece, meu anjo. E eu também.


[edit: sugestão musical para a sensação a expressão da dor, nesse caso, pelo rap e poesia https://www.youtube.com/watch?v=DGAKeeRVpk4]

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