Estamos sempre sozinhas
São Paulo, 13 de julho de
2020.
Imagine
que somos todos estrelas. Vivemos sempre a milhões de quilômetros,
em alguns casos, anos-luz, separadas umas das outras. (Vamos aqui falar no feminino,
mas serve se você for uma estrela-menino também.) Vivemos tão distantes umas das outras, somos tão independentes em gerar nosso próprio brilho, temos tempos de existências, tamanhos, proximidades, intensidades e temperaturas tão diferentes... Estamos sempre sozinhas. Mesmo existindo aos bilhões, não importa que algumas tenham a sorte de estarem mais perto.
Não há como fazer com que duas de nós estejamos tocando
uma a outra, inteiramente. E isso que já me pareceu uma limitação hoje é minha
definição de liberdade. Porque as distâncias, o isolamento (ouvi quarentena?)
ou a individualidade não nos impede de brilhar. Talvez seja mesmo nossa
diversidade e o espaço que existe entre nós que permitiu o desenvolvimento
desse brilho.
Pois bem, nós somos outro tipo de estrelas. Das que vivem
na Terra, e que encontram muito mais do que espaço físico entre elas. Somos
divididas pelas experiências, opiniões, posições impostas ou escolhidas dentro
da nossa sociedade, projetos de vida, sentimentos. Temos universos internos que
hora aproximam hora afastam dos universos das outras estrelas a nossa volta.
Mas nós, assim como as estrelas pra muito além da nossa atmosfera elas, também
dividimos nosso brilho e partilhamos de nossa existência singular - sendo isso
uma noção consciente ou não.
Nesse corpo humano eu não lido bem com a solidão física. Não sei como as estrelas fazem isso. Talvez por brilharem muito elas possam ver muito além de si mesmas e percam o medo do espaço, da solidão e do infinito. Enxergando à frente tem mais coragem para seguirem sós. É, acho que é isso. Talvez um dia eu perca o medo de sentar ali e olhá-las por muito tempo. Porque eu vou perder o medo de ser como elas.
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