Nota para a Eu futura: sem términos no inverno

            Esse é o tipo de coisa que a escola deveria ensinar. De que adianta saber as estações do ano se eu não entender como elas me afetam? Junto com educação financeira, a "psicologia das estações" podia ser pauta de pelo menos um workshop anual. Se eu tivesse um, teríamos rompido no verão.

            Frio de lascar em São Paulo. Aprendi na terapia a enxergar sem culpa meus hábitos de recaídas. Com o(s) ex(s). Assumi o que no fundo já sabia: eles eram meu pote no final do arco-íris quando no mundo real algum castelo estava tremendo. E tudo está sempre tremendo quando você se cobra demais.

            Com menos de uma hora num Uber e, piriri plim plim, eu chegava no reino mágico de ilusões. Bem, nem tão mágico assim, também tinha seus perrengues. Mas com os dele eu sabia lidar. E não tão de ilusões assim, quanto mais nos conhecíamos, mais reais ficávamos. No final do dia, dividíamos uma cerveja e um edredom. Não tinha problema que parecesse maior do que nossa habilidade em guardá-lo numa caixa para a manhã seguinte. De manhã, quentinhos em todos os sentidos, não tinha problema que fosse tão importante quanto aquela sensação.

            O outono chegou e eu já não tinha mais caixas disponíveis. Transbordaram e transbordei. Em dor, em verdade, em reflexões, em amor, em adeus. E olha, eu pedi à Deus, a la virgen, a todos os santos e ao Universo que me dessem um sinal - de preferência que virassem o jogo a nosso favor. Espero que eles me perdoem por eu ter levado tanto tempo para ver que eles já tinham feito o máximo pra que a gente entendesse.

            Agora é inverno e eu estou aqui. Eu e eu. Meu quarto, minha cama. O único corpo que esquenta minhas próprias cobertas. E sei que tem mais gente por aí sentindo falta das estações passadas. Quando o inverno não parecia tão intenso e quando o verão conseguia sempre fazer uma visita, nem que fosse por uma noite. (Um abraço cheio de álcool em gel pra você que tá se sentindo falta de dias mais quentes.)

            O frio quase me fez chamá-lo pra ver se falar com ele me acendia qualquer coisa, de esperança à rejeição. Sentir algo forte talvez me esquentasse agora. Porque o inverno tem isso também, de levar um pouco das cores e das sensações. E anestesia do frio incomoda quem sempre vive em chamas.

            A boa notícia é que a camada de gelo que eu achei que ia criar - aquela que me faria parecer com ele quando eu crescer - não se fez. No lugar, as sementes que encontrei no caminho estão dando flores. Ainda machucadas pelo frio, eu sei, mas estão ficando mais fortes enquanto crescem nesse clima. E as chamas, que agora eu alimento para esquentar a mim mesma, vão com mais calma e mais consistência, criando uma lareira linda no quarto que ganhei nesse inverno.


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