Aos heróis das pequenas ações
São Paulo, 10 de junho de 2019.
“There’s no such things as a small act of kindness.
Every act creates a ripple with no logical end.” Scott Adams
Essa
é uma história de transporte público. Uma dessas cenas lindas no meio de um
cenário pouco promissor que sempre me surpreendem. Voltava da
faculdade depois das 23h, última troca de transporte num terminal de ônibus da
zona leste de São Paulo. Entrei no Jardim Walkiria. Sentei num dos bancos antes
de passar a catraca, aproveitando a vista da janela (adoro ver movimento).
Estava batalhando para fazer o lado esquerdo do meu fone de ouvido voltar a
funcionar.
Lá pela quinta música um menino e
sentou ao meu lado. Ele devia estar na casa dos 25 anos. Muito cheiroso, já
agradeço por isso. Estávamos ambos de preto. Acho que ele estava saindo do
trabalho, roupas simples mas com certa formalidade. No banco ao meu lado, antes
dele sentar, havia um pacote de bolachas vazio, que eu nem percebi quando
cheguei. Mas ele sim. Tirou o pacote e ficou segurando na mão direita.
Continuamos o trajeto, eu no meu
fone de ouvido, ele com a mochila e o pacote vazio. Em uma das paradas do
ônibus num semáforo, ele colocou a mochila no banco e deu aquele misto de pulinho
pra tomar impulso e corrida pra alcançar a pequena lixeira próxima a porta de
entrada do ônibus. Eu não sei se ele percebeu que eu já estava sorrindo com
aquela cena. É o tipo de gentileza (quase) invisível, sem destinatário ou agradecimento
direto, que eu admiro e sempre tenho vontade de elogiar.
Rapidamente chegamos perto do meu
desembarque. Com celular, mochila, chave e guarda-chuva para transportar, sabia
que as chances de deixar algo cair eram grandes. Coloquei o celular num bolso,
a chave na mão do lado que encaixaria primeiro a mochila e levantei. O
guarda-chuva ficou por último, pendurado no banco a nossa frente. Antes que eu
pudesse colocar a outra alça da mochila, ele gentilmente me estendeu meu
guarda-chuva, com um sorriso tão luminoso que contrastava com todo o escuro,
das suas roupas e das minhas, do ônibus e da própria noite. Tenho certeza que
naqueles segundos a zona leste ficou mais clara.
Agradeci
retribuindo o sorriso e passei a catraca. Fiquei os dois pontos seguintes
pensando se deveria parabenizá-lo. E não me entenda mal, ele não está de
parabéns só pelo sorriso bem humorado no final de uma segunda-feira cinzenta em
São Paulo, num ônibus que chacoalha e enquanto você fica tentando se lembrar o
que pode fazer pra jantar. Ele está de de parabéns por todo o conjunto de pequenas
ações. Elas refletem o poder do que podemos fazer por um mundo um pouco melhor,
em cada segundo. Após um dia cheio, manter o cuidado com o ambiente coletivo e
com uma estranha, não por pressão social, mas fazer isso de forma leve e até
afetuosa.
Fico feliz em já ter visto várias
histórias dessas por aí. Ainda não tive coragem de agradecer pessoalmente, mas
pelo menos gostaria muito registrar aqui o parabéns a cada pessoa que já vi
cuidando de um mundo que nem sempre vai demonstrar gratidão ou reconhecimento.
Vocês são vistos, inspiram pela alegria e atitude. Ouso dizer que são heróis de
um mundo hoje mais focado em "parecer" do que "ser". Fazer
sem aplausos me diz sobre quem vocês são. E vocês são incríveis! Obrigada aos
heróis das pequenas ações.
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