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Mostrando postagens de junho, 2019

As estações

Era minha última semana no Rio. Queria voltar pra casa com um amor de verão na bagagem. Desses que arrebatam, que levamos pra vida toda, 40 graus meixmo. Queria essa história intensa na cidade maravilhosa. E como tudo que pedimos ao Universo, quando eu estava pronta, meu pedido foi atendido. No último dia da minha estadia, na balada de despedida, eu o conheci. Eu não sei como ele não saiu correndo logo na primeira conversa. Para te dar uma ideia, saímos do fundo sertanejo-final-de-festa pra papos de investimento e problematização de condutas machistas na sociedade. Quando fomos tomar o "café da manhã", eu já avisei que queria ser "levada a sério". Quem topa isso num primeiro encontro do século XXI? Bem, ele topou. E topou passar o dia comigo me contando sua vida, suas vitórias e seus medos. Ouviu sobre o meu passado, se animou com os meus sonhos e se divertiu com minhas teorizações sobre tudo. Topou o pôr do sol no Arpoador. Topou me deixar vê-lo de perto. M

Para os heróis das pequenas ações

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Essa é uma história de uma cena linda de transporte público. Cheguei da faculdade depois das 23h num terminal de ônibus da zona leste de São Paulo. Entrei no Jardim Walkiria. Sentei num dos bancos antes de passar a catraca, aproveitando a vista da janela (adoro ver movimento). Estava batalhando pra fazer o lado esquerdo do meu fone de ouvido voltar a funcionar. Lá pela quinta música um menino e sentou do meu lado. Ele deve estar na casa dos 25 anos. Muito cheiroso, já agradeço por isso, estávamos ambos de preto. Acho que ele estava saindo do trabalho, roupas simples mas com certa formalidade. No banco ao meu lado, antes dele sentar, havia um pacote de bolachas vazio, que eu nem percebi quando cheguei. Mas ele sim. Tirou o pacote e ficou segurando na mão direita. Continuamos o trajeto, eu no meu fone de ouvido, ele com a mochila e o pacote vazio. Em uma das paradas do ônibus num semáforo, ele colocou a mochila no banco e deu aquele misto de corrida e pulo pra alcançar a pequena li

Para quem pensa no amor-da-vida

RJ/SP, 22 de janeiro de 2019             E quando o amor da vida é desafiado pelos outros amores? O Gregório Duvivier tem um texto ótimo sobre como você pode perder muitos amores atrás do grande-amor-da-vida. Eu, por sorte ou teimosia, vivo uma história recíproca hoje, dessas com cara de grande-amor-da-vida mas que com sorte (dele, é claro) vira o amor-da-vida-inteira. Mas, fora rumores populares, nunca li sobre o curioso fenomeno (como escreve esse acento) de todos os seus outros amores e suas variáveis se deslocarem no espaço tempo para pôr a prova sua forma de se relacionar com grandes-amores. Não necessariamente isso significa que você gosta mais ou menos do seu amor-da-vida, acredito que existem várias outras formas de amar pra além das relações monogamicas. Mesmo nesses caso a volta de um amor pode fazer pensar sobre a força da sua conexão com o esse-amor-que-se-escolheu-pra-hoje. Esse teste pode vir quando você volta de viagem e aquele seu crush-da-faculdade es

Para quem acha que crescer é foda

Crescer é foda. Para o desgosto dos conservadores, não existe termo melhor. Crescer é incrível e difícil. É fascinante entrar para o mundo dos adultos e aproveitar diferentes oportunidades. É apavorante reconhecer que suas escolhas afetam o mundo ao seu redor, especialmente as pessoas que você ama. É lindo sentir-se mais capaz de tomar decisões e ousar por caminhos diferentes. É frustrante quando você se arrepende de uma escolha que fez. É gratificante conseguir aquele emprego que tanto queria/precisava. É angustiante passar uma noite em claro pensando em como pagar as contas. É incrível quando você sente que pode inspirar e ensinar alguém com as suas experiências. É doloroso ver as pessoas que te ajudaram a crescer partirem. Crescer é foda porque é essa escalada de montanha com vista linda e caminho perigoso. Gostaria de passar mais alguns parágrafos em lembranças dos altos e baixos que já vivi, e acho que você também. Mas esse é o resumo da ópera. Crescer é assim, foda. E tem al

Histórias da Cidade: Dos amores em descoberta

Aqui começa a série de Histórias da Cidade. Como uma boa aspirante a cronista, é assim que vou compartilhar o que encontrar de marcante pelas ruas de SP - e onde mais estiver. São Paulo, 05 de fevereiro de 2019 Vi um casal apaixonado hoje no metrô. Não desses que tá na cara que são um casal. Na verdade, acho que eles ainda não admitiram que estão apaixonados. Nem pra si mesmos. Eles conversavam animadamente sobre algo da faculdade. O rosto dele se iluminava toda vez que ela sorria, o que acontecia com frequência. Não sei se ela é tímida ou sentiu que ela sorria um pouco mais depois do riso dela. Mas abaixava um pouco o rosto e ajeitava a alça da bolsa ou a franja do cabelo, e o espiava antes de voltar a falar. Quando eles se pegavam falando muito perto um do outro, encontravam algo pra apontar um pouco mais longe, na medida certa pra ser um desculpa pra desviar o olhar. Mas não chegavam propriamente a se afastar. O metrô chegou. Ih, parece que só ela vai embarcar. El

Para o maior amor do mundo

Rio de Janeiro, 03 de agosto de 2018 Eu sei que você não gosta de exposição, mas não pude evitar. Sei também que você não ia me querer no Rio chorando pela sua ausência. Então já aviso que ainda não chorei, mas é possível que escrevendo para ti eu me emocione tanto quanto hoje, te vendo naquela figura ao meu lado. Mãe, esse texto é para você. É, mãe, eu cresci. Estava lá, fazendo amizade com estranhos no trem, uma cena tão típica de São Paulo e me peguei dando conselhos de como criar filhos a partir de como você me criou. Mas, calma, vou contar do começo. Comprei duas empadas no trem (aqui o Shopping Trem é um serviço muito mais amplo aqui, você tem que conhecer). A mulher ao meu lado pegou uma. Começamos a falar disso que eu gosto tanto que é comida. Aliás, tô com saudade de dividir uma refeição contigo. A conversa aqui no trem seguiu e ela me contou dos filhos. Ela tava voltando de um dia longo de trabalho, ia ver a mais nova. A bebê tem um ano e quatro meses e recebe a

Para quem vive

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Primeira experimentação artística digital. Exposta para experimentar perder a vergonha de fazer coisas pela primeira vez . Viver é experimentar. Gostos, toques, caminhos. É tentar de um jeito, gostar e continuar. Não gostar e recomeçar. É seguir e desistir. É errar e com sorte perdoar, a si e aos outros. É todos os dias começar sem garantias de como termina. É arriscar-se a cada inspiração, de ar ou ideia. É descobrir que na verdade você nunca viveu exatamente como agora, nunca será outra vez a mesma pessoa que está lendo esse texto. É, sabendo disso ou não, permitir que a Vida te apresente novas possibilidades a cada segundo. É fazer escolhas, intencionais ou não. É experimentar ficar, ir, fugir, voltar. De si, de alguém, para si e para o mundo. É experimentar o cheiro da mesma flor em cada novo dia, é experimentar a dor de cada nova despedida, e a intensidade de lágrimas derramadas pelo mesmo motivo mais de uma vez. É experimentar a força de quando decide não chorar mais