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O Escrever

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            O escrever é diálogo que pode te narrar de novo. Não só um conto ou um fato. Escrever pode narrar você para si mesmo. Quantas vezes precisar. Pode, sem reescrever na história, reescrever a história com mais detalhes que a correria do dia a dia permitiram registrar. No registro escrito, que vem depois da vivência ou antes do projeto concretizado, o tempo é ora contratempo, ir aliado. O que importa na escrita é que tudo importa, até aquilo que não foi dito. O difícil é que tudo merece espaço, mas quase tudo que é humano é finito.             Quando a escrita consciente conta o que aconteceu, é capaz de eternalizar aquilo que livros de história buscam humanizar, mas que por tantos exemplos que vira e mexe se repetem, podem ser ditos como estatísticas e não como histórias. E isso vale pra vida cotidiana. Somos 7.8 bilhões de exemplares humanos, 7.8 bilhões de vidas que mais ou menos esbarram nos mesmos problemas. 7.8 bilhões de formas diferentes de significar o

Aos heróis das pequenas ações

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 São Paulo, 10 de junho de 2019.   “There’s no such things as a small act of kindness. Every act creates a ripple with no logical end.” Scott Adams               Essa é uma história de transporte público. Uma dessas cenas lindas no meio de um cenário pouco promissor que sempre me surpreendem. Voltava da faculdade depois das 23h, última troca de transporte num terminal de ônibus da zona leste de São Paulo. Entrei no Jardim Walkiria. Sentei num dos bancos antes de passar a catraca, aproveitando a vista da janela (adoro ver movimento). Estava batalhando para fazer o lado esquerdo do meu fone de ouvido voltar a funcionar.             Lá pela quinta música um menino e sentou ao meu lado. Ele devia estar na casa dos 25 anos. Muito cheiroso, já agradeço por isso. Estávamos ambos de preto. Acho que ele estava saindo do trabalho, roupas simples mas com certa formalidade. No banco ao meu lado, antes dele sentar, havia um pacote de bolachas vazio, que eu nem percebi quando cheguei. Mas

Pertencer e Habitar

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            Às vezes me dá vontade de não pertencer. Entendo a segurança que dá estar em casa, com pessoas que me conhecem até a raiz do fio de cabelo, que sabem minhas qualidades e defeitos e me apoiam tanto, nos altos e baixos. Mas também quero um ambiente em que não haja ainda história escrita por mim. Em que a sensação da folha em branco a ser preenchida seja muito maior do que a sensação dos caminhos entalhados nessa cidade, que parecem muito bem desenhados antes mesmo de eu aprender a andar.             Eu acredito que cada um pode escrever seu caminho. E tenho vontade de me reescrever várias vezes. Quero reescrever ou escrever pela primeira vez uma Morena, Ruiva, Loira, Avatar, o que seja, mas que seja onde eu possa descobrir mais de quem sou. E de quem quero ser.             Viajar tem disso, de chegar a um novo lugar em que você ainda não se escreveu para ninguém. Não tem raízes, não tem histórico para comparação e as pessoas não têm expectativas sobre você - pelo menos na

Você já se autorizou à fazer aquilo que sempre quis?

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Cada um encontra, pelo menos uma vez na vida, uma sensação que faz respirar mais feliz ao mesmo tempo em que tira o fôlego. Se depara com aquela faísca que pode se tornar uma explosão. Quase todo mundo vive por pelo menos alguns segundos algo que parece justificar a existência. Várias vezes, escrever pra mim é essa única coisa, que dá significado à todas as outras. Talvez seja porque aqui posso tentar transcrever o que sinto com todas as outras coisas, incomuns ou triviais, que legitimam o viver. Aqui eu posso criar ou sentir de novo uma cena, uma experiência, uma fração de segundos ou a história de uma vida que nem foi minha, mas pode ser recriada nas limitações da minha linguagem. Assim as palavras me permitem viver mais um pouquinho dentro da minha finitude. Não por me darem mais tempo, mas por realmente me darem mais vida.  Até porque, sentir as dores e alegrias da vida com todo meu ser alimenta a habilidade/necessidade de escrever. Tem gente que encara como um peso, a

Você já celebrou suas falhas hoje?

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Santo André, 29 de agosto de 2020.   “Experience is simply the name we give our mistakes.” Oscar Wilde   Minha monografia foi rejeitada. Antes mesmo de ser lida. Fui uma péssima orientanda e tentei fazer meu trabalho sozinha - por todas as minhas questões pessoais de tentar evitar frustrações aos poucos e por tentar "não incomodar" quem tem tantas outras coisas pra resolver. Tô trabalhando na terapia, mas ainda é um processo. Entre escolhas de temas, orientadores, desgastes, quase desistências e noites em claro, foi quase 1 ano e meio. Pra ouvir que meu trabalho nem seria lido. E incrivelmente, me sinto mais livre. Eu concluí o que mais me desgastava na faculdade. Finalizei um projeto que pra mim era todo um monstro de Odisseia. E fiz isso num ambiente que transbordava amor e apoio de todas as pessoas que eu amo. Recebi tanto carinho e encorajamento nesse processo que a monografia ganhou um novo significado. E hoje eu celebro até o fracasso que dessa rejeição, porque virou um