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Mostrando postagens de setembro, 2019

Ainda é uma flor

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São Paulo, 25 de setembro de 2019 Ela está mais sequinha. E enrugada. Desabrochou e perdeu um pouco da maciez nas pétalas, de quando ainda era um botão. Já mudou um pouquinho de cor por fora, o tempo e o frio tiveram um efeito nos seus contornos. Mas segue sendo uma flor. Sua cor ainda é vibrante. Nas pétalas mais protegidas do mundo exterior, segue macia e com seu perfume. Resistiu bravamente por mais tempo que a maioria. Acho que por isso mesmo vejo mais beleza nela hoje do que no dia que chegou. Afinal,  Saint-Exupéry tem razão: é o tempo que dedicamos às nossas rosas que as tornam tão importantes. Dedicar tempo ao que sabemos ser efêmero é mesmo uma prova de amor. E vemos isso em vários tipos de amores. O amor que os pais dedicam aos filhos, sabendo que é uma reciprocidade limitada pelo menos nos anos iniciais, criando-os para que descubram o mundo e, um dia, não estejam mais na mesma casa. O amor que dedicamos aos pets, abraçando, de forma consciente ou não, uma vi

Bem-vinda, Primavera!

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São Paulo, 22 de setembro de 2019 Eu gosto muito de viradas de estações. Essa mudança sem retrospectiva. Vem de forma gradual, mas perceptível e traz consigo esperanças de novos dias. O inverno está acabando. É hora de deixar para trás o que é frio e pesado. É chegado o tempo de florescer. A maior parte do meu inverno foi confortável, devo admitir. Corpo e coração quentinhos com frequência. Mas os momentos de frio foram igualmente intensos. Duvidei de que seria capaz de sobreviver às situações difíceis. Questionei a mim mesma quando o ambiente externo não me deixava confortável ou segura. Foi necessário todo um inverno de trabalho para que eu reacendesse minha própria luz, me aquecesse com ela e a transformasse na minha própria guia. Foi no meu inverno que achei minha primavera. Agora, há Primavera do lado de fora também. Na verdade, ela ainda não chegou por completo. E nem precisa, a comemoração já começou. Afinal, uma estação pode ser um estado de espírito. Ou um est

Você já viu a Lua hoje?

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São Paulo, 18 de setembro de 2019 "Você já viu a Lua hoje?" Essa pergunta virou quase um mantra. Geralmente acompanhado de um "Ela tá linda!" A bolinha branca no céu me faz um bem danado. Marca presença sem causar alarde. Sem disputar espaço. Linda e discreta. Acredita que tem gente que passa a noite toda sem vê-la? Não sei como conseguem. As belezas naturais já perderam tanto espaço pro cinza da cidade que olhar pra cima devia ser automático. E nesse céu que eu adoro, a Lua tem lugar especial. Entendo que não é assim pra todo mundo e muita gente nem se importa. Mas continuo comentando. Porque quando alguém vai olhar e se impressiona, sorri. As vezes nem preciso verbalizar. Basta olhar pra ela,  alguém que me vê na rua com os olhos erguidos começa a  procurar o que há no céu, também a vê e sorri. Ela faz isso: consegue trazer um sorriso pra um rosto sério depois de um dia longo. Só estando ali – mesmo esse ali sendo longe. E isso é um superpoder incríve

A segunda Esperança - para fazer as pazes com os medos

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São Bernardo do Campo, 10 de setembro de 2019 Ouvi a segunda ameaça de Esperança aqui em casa (a primeira experiência da saga está aqui). Esperança como sentimento também, chegaremos lá. Mas de início, achei que era só o barulho das asinhas que me tiraram do eixo no domingo. Essa segunda visita foi na terça-feira, depois das 19h. Eu não me sentia mais no direito de tirar alguém de casa depois de um dia longo de trabalho. Com meu jantar seguro dentro do micro-ondas, já pronto para consumo, abandonei minha cozinha para a possível amiga (que segundo minha percepção estava próxima ao meu fogão) e me tranquei no quarto. Nunca amei tanto a invenção das portas. Liguei para o meu pai, na esperança de que sua experiência no campo me ajudasse com a minha inexperiência em estar sozinha com uma Esperança em casa. E aí as coisas tomaram uma dimensão menos literal. Meu pai me apoiou muito, ficou preocupado, mas eu me senti pressionada. Para ele não faz sentido que eu tenha medo da Esperança.

Pra quando a gente terminar - e um pedido aos Deuses

São Paulo, 04 de setembro de 2019 Eu senti um incômodo quando vi vocês dois conversando. E não era aquele comichão do ciúmes. Era aquela dorzinha de quando uma boa história está acabando. Fiquei triste com a chance de que um dia vamos encontrar quem se encaixe melhor na nossa história . Loucura, eu sei, porque esse também vai ser um dia super feliz. E tudo bem romper laços quando é para ficarmos ainda melhores. De um jeito ou de outro, tudo dentro da nossa mortalidade tem um prazo de validade. É só que eu gosto bastante desse laço específico, então não gosto de pensar nele desfeito.  E Cronos volta nessa rodada. Citado ou não, está sempre presente nas experiências humanas. F iquei triste pela possibilidade de você encontrar alguém que se encaixe melhor na sua rotina. Que também levante cedo para fazer exercícios em um bairro nobre da zona sul. Que já esteja na fase de carreira consolidada e não planejando as próximas duas graduações. Que não vai fazer piada dos seus hábitos de hé

O barulho estranho na minha sala - sobre como o monstro é o medo que faz

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São Bernardo do Campo, 08 de setembro de 2019. Era meu primeiro dia da jornada de morar sozinha. A amiga com quem divido apartamento saiu em viagem pelos próximos meses. Depois de falar sobre todos os dilemas amoros e terminarmos a segunda garrafa de vinho, meu amigo também foi embora. E eu tinha abraçado o restante do dia para me dedicar a mim mesma. Comprei itens para o café da manhã, preparei as refeições da semana, cuidei de algumas baguncinhas que eu queria organizar há um tempo e, depois do banho e do jantar, comecei o TCC. Eis que um barulho curioso chama a minha atenção. Já passara um pouco das nove da noite. Ouvi uma sequência de bater asas, numa sucessão de mais ou menos 10 repetições rápidas numa série de 2, com largo espaço até a dupla de batidas seguintes. Tinha um inseto na minha sala. Normalmente, isso não me abalaria. No geral, com uma barata no chão ou uma aranha na parede eu consigo lidar bem. Mas esse barulho misterioso, de algo que eu não conseguia ver,

Por aquele "oi" eu que não disse

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São Paulo, 03 de setembro de 2019 Por que nem sempre a gente cumprimenta as pessoas que conhece? Quais os elementos são necessários pra que a gente se sinta confortável para dizer um "Olá" ou pelo menos dar um aceno mostrando que se importa com o outro? Primeiro quero assumir uma premissa aqui. Você parar esses segundinhos pra dar um "Oi" mostra que você se importa com o outro. Por isso temos aquela listinha de gente que dá preguiça. Pelo menos eu, mesmo mando a humanidade, tenho a minha. Então o que coloca alguém no grupo de "você vale meu tempo, vale uma pausa no que eu estou fazendo agora pra compartilhar um sorriso"? É, nesses termos me lembro de que todo mundo vale. E tô meio arrependida, porque hoje minha insegurança foi maior do que o valor que dou à essas expressões de afeto. Hoje eu não dei "oi" pra alguém importante pra mim. E quero entender porque reagi assim. Vamos à análise. Pontos para disponibilizarmos nosso tempo para

Porque o Morumbi não tem personalidade - sobre converter espaços em lugares

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São Paulo, 14 de agosto de 2019 Disse isso uma vez para o mais novo morador do bairro. Bem, ele acabara de escolher o apê pro qual ia se mudar. E eu soltei um "eu não moraria nesse aqui, não tem personalidade". Mas afinal, porque parece que alguns lugares não tem uma marca de identidade? Foi pensando em como quero reencontrá-lo que entendi. O Morumbi (assim como outras bairros elitizados) não é um lugar de vínculos. E não venha me dizer que o casamento das pessoas com o trabalho é vínculo. Essa é uma relação que a maioria quer romper. Bairros com vínculos são esses em que o espaço vira lugar. (Lugar, por definição, pressupõe a existência de sentimento, afeto). Onde as pessoas constroem suas vidas. Onde existem infâncias. Onde existe breja no domingo à tarde com os amigos do futebol. E churrasco. E sorvete. Não como aquela fuga na quarta feira de uma semana eterna, mas como o passeio com a avó no sábado tranquilo. Foi pensando em como queria vê-lo, aquele ponto

O menino dos brigadeiros

São Paulo, 16 de agosto de 2019 Metro Borba Gato. Um pouco depois das 16h. Há algumas umas semanas que eu o vejo aqui. Talvez já há uns dois meses. Todos os dias. Ele traz uma cestinha pequena de brigadeiros, beijinhos e aquele doce cor de rosa. Nas primeiras três semanas ele não conseguia falar. Eu sempre achei curioso o menino que, parado na frente da entrada do metrô, estendia sua caixinha de esperanças enroladas em granulado, mas tinha vergonha de oferecê-las ao mundo. Eu só imaginava como era difícil se expor para tantos rostos por dia, com respostas tão diferentes a uma abordagem anti-dieta no final de um dia longo. Mentalmente desejava sorte ao menino dos brigadeiros, mas continuava meu caminho. Há umas semanas ela ganhou uma companhia. Uma garota com a metade da sua altura, sem encostar nos produtos, parecia um poço de fortazela ao aprendiz de vendas. Eles devem ter a mesma idade, difícil dizer se amigos ou namorados. Nos dois primeiros dias, não os vi interagir com